Tumores da adrenal em cães podem ser subdivididos em quatro tipos: tumor adrenocortical funcional produtor de cortisol, levando ao hiperadrenocorticismo (HAC); tumor adrenocortical funcional produtor de outros hormônios, como a 17-hidroxiprogesterona, levando ao HAC atípico; tumor afuncional e o feocromocitoma (Kudnig, 2012). Os feocromocitomas são tumores secretores de catecolaminas originados a partir das células cromafins da medula adrenal. Os efeitos mais importantes incluem o aumento da pressão arterial, da frequência e da contratilidade cardíacas, diminuição da motilidade gastrointestinal e aumento dos níveis de glicose e ácidos graxos no sangue (Galac, 2017). Cerca de 50% dos tumores adrenais são malignos, e possuem grande potencial de invadir estruturas adjacentes, sendo mais descrita a invasão de veia cava caudal, potencialmente associada à oclusão venosa. O diagnóstico é baseado em suspeita clínica, bioquímica sérica, ultrassonografia abdominal e tomografia computadorizada. Porém, o diagnóstico definitivo é baseado no exame histopatológico e imunohistoquímica posterior à adrenalectomia, quando for possível a sua realização.
O manejo pré-operatório é crucial, haja vista que a manipulação pode levar a instabilidade cardiovascular devido a episódios de hipersecreção de catecolaminas. O uso da fenoxibenzamina, bloqueador alfa-adrenérgico não seletivo e irreversível, é recomendado de uma a duas semanas antes da cirurgia, considerando a possibilidade de feocromocitoma. O seu uso demonstrou melhorar significativamente a sobrevida de cães submetidos à adrenalectomia por feocromocitoma (Herrera et al., 2008). Em casos de taquiarritmia, os beta-bloqueadores podem ser administrados, como o atenolol, porém nunca antes do alfa-bloqueador, uma vez que pode resultar em severa hipertensão (Galac, 2017). A cirurgia pode ser realizada por laparoscopia ou laparotomia, sendo que a escolha deve ser feita de acordo com o tamanho do tumor, presença de invasão vascular e a experiência do cirurgião. A laparoscopia é indicada para massas de até 5 cm de diâmetro que não invadiram a veia cava caudal (Pitt et al., 2016; Cavalcanti et al., 2020). Na laparotomia, a abordagem ventral na linha média é vantajosa, pois expõe as duas glândulas com apenas uma incisão, porém a excisão pode ser dificultosa em relação à abordagem pelo flanco, já que as adrenais estão localizadas dorsalmente, no espaço retroperitoneal, e o fígado, o rim e a veia cava caudal devem ser significativamente retraídos, particularmente para a glândula direita (Birchard, 2003). Após a excisão, a musculatura, o subcutâneo e a pele devem ser fechados. Para o fechamento da musculatura é proposto que suturas não-absorvíveis são preferíveis devido à cicatrização prejudicada (Birchard, 2003).Posteriormente, os pacientes devem ser monitorados acerca das arritmias, pressão arterial e hemorragia. A terapia hormonal é desnecessária na maioria dos casos já que ocorre normalmente de forma unilateral. Em cães com feocromocitoma a cirurgia é o tratamento de escolha e o prognóstico é reservado quando o manejo for adequado e a cirurgia satisfatória (Berg, 2023).